Jan 13, 2011

CIGARRO!

DROGAS

Por que os Jovens Usam Drogas?

Por que os jovens usam drogas?
março 20, 2009
por Michel Aires de Souza
.Texto: Michel Aires de Souza


Tornou-se comum para psicólogos e psiquiatras acreditarem que há uma relação causal entre o uso de drogas e a desestrutura familiar ou a problemas financeiros. Mas isso não é uma verdade. Os dados nos mostram que é cada vez maior o uso de drogas em famílias abastadas, aparentemente estruturadas, com diálogo, compreensão e afeto. Os dados derrubam a tese de que um problema desta ordem pode acometer apenas famílias desorganizadas, pobres e amorais. Citaremos aqui o caso do Crack que é comumente associada à classe de baixa renda, em particular, associada a menores abandonados, prostitutas e mendigos. “O crescimento do consumo de crack entre jovens abastados pode ser recente, mas avassalador. Por mês, Rubens de Campos filho atende 400 pessoas com os mais diversos distúrbios, como depressão, estresse, fadiga. Problemas com drogas representam um terço do movimento do seu consultório, 70% fumam crack, todos de classe média e alta”. (UCHÔA, 1996, p.133)

Segundo Marco Antônio Uchôa, jornalista da Globo, o primeiro sinal significativo de que o crack invadiu a família de classe média foi dado em outubro de 1995 com a morte de Cristiane Gaidies, uma moça de 20 anos, filha de uma psicóloga e um dentista. Ela foi morta por tentar roubar um toca fitas. A família tentou de tudo, diálogos, internações, mudanças, mas nada adiantou. “Antes de ser assassinada, a moça de cabelos cor de mel, olhos expressivos e sorriso claro morava com outros viciados em crack num casarão abandonado na mesma rua onde morreu (…). O casarão sujo e úmido, é a referência de crack nas imediações da avenida Paulista e abriga mendigos, prostitutas, travestis e viciados”. (UCHÔA, 1996, p.133).

Se as drogas não estão associadas a desestrutura familiar ou à carência material e intelectual, então, por que os jovens usam drogas? O problema das drogas não é somente um problema familiar, uma vez que ela atinge famílias bem estruturadas, com afeto e boa educação. O uso de drogas é o meio pelo qual os jovens se utilizam para buscar mais prazer do que a sociedade oferece e para aliviarem suas frustrações e insatisfações com uma sociedade que perdeu seus valores, que se tornou relativista e fragmentária. Os ritmos de mudança na sociedade contemporânea são muito rápidos, deixando os indivíduos desorientados e pressionados pelas exigências do dia-a-dia. Vivemos uma época onde a família como formadora da individualidade se fragmentou, onde não há mais valores pré-estabelecidos, onde a ética individualista do lucro tornou-se a moral social, onde a racionalidade do capital transformou o consumo em necessidade orgânica e onde Deus se tornou mercadoria barata. Os jovens usam drogas porque não há mais rumos pré-estabelecidos, não há mais valores, não há mais limites, somente o que importa é a busca do prazer imediato. A sociedade criou um mundo consumista onde os jovens vivem de prazeres imediatos e são criados sem frustrações diferentemente de seus pais. Eles estão desorientados, não têm limites e sofrem a pressão do mundo externo com suas regras e normas. As drogas são os meios que o indivíduo busca para aumentar o nível de prazer que as coisas não podem oferecer e para se livrar das tensões dos estímulos causados por uma realidade repressiva, que desumanizou o homem e humanizou o dinheiro e os bens materiais. O homem se tornou apenas uma coisa, um objeto, um parafuso em uma engrenagem. Ele é apenas um número: um número de RG, um número de CPF, um número na escola, um número na empresa, um número na guerra. É algo substituível, o puro nada. Dessa forma, as drogas se proliferam como narcóticos que aliviam as tensões, causam prazer e fornecem um “mundo melhor” para se viver. Elas produzem um alívio momentâneo, mas potente, que altera o funcionamento bioquímico do cérebro, possibilitando a sensação de prazer, mas que as vezes tem se tornado um caminho sem volta.

Bibliografia

UCHOA, Marco.A. Crack: o caminho das pedras. Ática: São paulo, 1996.